Alexandre Fonseca, administrador responsável pela área das tecnologias da PT, que detém a Meo, ganhou mais uma razão para sorrir quando vê os primeiros raios de sol a cruzar os céus. A operadora está apostada em reduzir a fatura energética – e as emissões de Dióxido de Carbono (CO2) – através da instalação de painéis fotovoltaicos em estações de retransmissão que asseguram o funcionamento da rede móvel mais usada do País.
O momento de viragem já está em curso: a Meo escolheu 20 sites de antenas retransmissoras que se encontram totalmente isolados e são alimentados permanentemente por geradores para dar início ao upgrade solar. Desses 20 sites, há seis que já têm painéis solares. Além da energia solar que alimenta alguns dos retransmissores da rede móvel, a Meo prevê instalar lâmpadas LED e ainda painéis fotovoltaicos nos principais edifícios de Lisboa e Porto. Os objetivos são facilmente traduzidos em números: menos 800 toneladas de CO2 que vão para atmosfera e 2,5 milhões de euros poupados anualmente.
Numa pequena entrevista para a Exame Informática, Alexandre Fonseca dá largas ao otimismo, mas admite que ainda falta um longo caminho até que a energia renovável substitua na totalidade a rede elétrica convencional e os geradores a diesel.
A energia solar permite poupar dinheiro, mas ainda não permite dispensar tecnologias mais antigas e poluentes que funcionam como redundância… será que compensa mesmo manter estes dois investimentos?
A utilização de energias alternativas não tem, neste momento, a veleidade de assegurar a substituição plena. Acima de tudo, a PT quer fazer duas coisas: por um lado, colocar em 20 sites da nossa rede móvel, que estavam em locais que nem sequer tinham rede elétrica, e que tinham – e alguns ainda têm – geradores que consomem energia fóssil. Estas 20 estações representavam cerca de meio milhão de euros de consumo de gasóleo para garantir o funcionamento durante 24 horas por cada um dos 365 dias do ano. Essas estações representavam ainda mais de 1250 toneladas de dióxido de carbono (CO2), que eram libertados para a atmosfera devido ao facto de serem queimarem mais de 450 mil litros de combustível todos os anos. Destas 20 estações, há seis que já estão em pleno funcionamento (com energia solar); as restantes estão em fase de planeamento ou implementação. Se fizermos contas às seis que já estão em pleno funcionamento, vemos já poupanças superiores a 150 mil euros anuais; poupámos quase 100 mil litros de gasóleo e 250 toneladas de CO2 por ano. Estes investimentos começaram nos pontos onde estávamos a ser mais penalizadores para o ambiente. Além disso, estamos a prever a implementação de iluminação LED e painéis fotovoltaicos em edifícios centrais da PT – aí sim, numa lógica de substituição parcial e gradual, vamos reduzir a nossa fatura energética, aumentar a nossa eficiência energética, e ter ganhos do ponto de vista ambiental e da nossa sustentabilidade no sentido de virmos a alternar, gradualmente, entre o uso da energia da rede com energia cogerada, através de dispositivos como painéis solares. Vamos implementar, em alguns edifícios de Lisboa e Porto, algumas centenas de painéis fotovoltaicos para gerar energia.
Que meta foi fixada pela PT no que toca à produção e consumo de energias renováveis?
Prevemos poupar 2,5 milhões de euros por ano com as iniciativas que já foram levadas a cabo e também com outras que serão implementadas entre 2016 e 2017. Estamos a falar de painéis fotovoltaicos, lâmpadas LED, uso de energias alternativas em centros de dados, etc.. Além da redução de mais de 850 toneladas da pegada de CO2, estamos a contribuir para a rentabilidade da organização, através destas poupanças.
Mas a questão central mantém-se: será que dentro de cinco anos a PT conseguirá ter toda a rede, laboratórios e escritórios suportados apenas e só por energias renováveis?
Hoje, não há nenhum operador, à escala mundial, que tenha sequer 50% da rede suportada em energias verdes. Nessa perspetiva, não é viável pensarmos ou dizermos que dentro de cinco anos vamos ser totalmente autónomos. O que queremos mostrar é que estas iniciativas permitem ter ganhos muito interessantes ao longo dos próximos cinco anos, com a substituição do combustível fóssil – e não estou a falar apenas dos sites que são alimentados (por gerador) 365 dias por ano, mas também dos casos em que temos geradores que só entram em funcionamento em caso de falha (da rede elétrica) e que nos permitem dar melhor qualidade de serviço ao cliente. Quase nenhum operador europeu, e nenhum em Portugal, tem a rede móvel coberta por geradores. É impensável. Qualquer operador tem milhares de antenas e é inviável ter geradores em todos esses locais. Um dos nossos planos prevê a instalação de painéis fotovoltaicos numa parte significativa da nossa rede. É algo que dará a capacidade para suportar microcortes energéticos (da rede de eletricidade convencional) com durações entre 20 e 30 minutos, e manter as operações na nossa rede móvel. O ganho está na complementaridade da rede elétrica tradicional, na melhoria da qualidade de serviço, e ainda nas poupanças. Portugal tem um conjunto de metas ambiciosas na redução de pegadas de CO2 e gostaríamos de pensar que a PT, sendo uma das maiores empresas nacionais, também vai contribuir de forma significativa e factual para o atingimento dessa meta.
A aposta no fotovoltaico só faz sentido com um investimento em baterias…
Nos últimos anos, a grande evolução nas energias alternativas, em particular na energia solar, está relacionada com o binómio criado pela recolha e armazenamento dessa energia. A tecnologia de recolha de energia tem vindo a evoluir, mas tão ou mais importante que a evolução e a qualidade dos painéis fotovoltaicos, é a evolução registada nas tecnologias de armazenamento. As baterias conseguem armazenar energia de forma cada vez mais eficiente: o que significa que se tornou possível armazenar cada vez mais energia em baterias cada vez mais pequenas. E além disso, há ainda uma evolução nos materiais usados nessas baterias. De nada vale ter uma instalação mais amiga do ambiente, por recorrer a energias alternativas, e depois termos um conjunto de baterias que recorressem a materiais de há 10 ou 15 anos, que eram altamente nocivos para o ambiente, do ponto de vista dos resíduos.
Como é que as operações e a rede da PT se preparam para os períodos em que há menos sol, como no Inverno, ou onde não há mesmo sol, como à sucede à noite?
Para termos uma noção, dou o exemplo do site de Piornos na Serra da Estrela, que era alimentado a diesel 24 horas por dia, e hoje pode ter de recorrer ao gerador quatro a cinco horas por dia durante o verão que, como se sabe, tem maior exposição e maior intensidade de luz. O que corresponde a uma redução de seis vezes ao número de horas com combustível fóssil. Um painel fotovoltaico não absorve energia única e exclusivamente do embate direto da luz solar. Tem também a ver com a intensidade da luz. Num dia encoberto, a produção de energia não está num pico como estaria num dia de céu limpo, mas pode estar a 60% ou 70%. O que interessa é a intensidade luminosa. Mesmo num dia de verão nublado, com exposição indireta, porque estão nuvens, estamos a falar de uma intensidade luminosa suficiente para carregamento de baterias que será sempre superior as 12 ou 14 horas (por dia). Mas claro que hoje ainda temos de ter o gerador para complementar a energia que é acumulada durante o dia (pelos painéis fotovoltaicos).
Era capaz de recomendar as energias renováveis a outras empresas?
Absolutamente. O objetivo de darmos conta desta nossa estratégia passa por divulgar os ganhos obtidos, mas também mostrar que não é uma moda ou obter uma certificação. O objetivo é mostrar que podemos lançar iniciativas desta natureza para obter ganhos financeiros, e que podemos ser sustentáveis e amigos do ambiente. A PT recomenda vivamente para que continuemos a contribuir para os metas de pegada de carbono que Portugal tem de cumprir até 2030 ao mesmo tempo que garantimos ganhos que podem ser investidos em tecnologia e inovação para os nossos clientes.