Jorge Vago, cientista da Missão ExoMars, admitiu hoje que as comunicações recebidas ontem ao início da tarde possam ter sido as últimas do módulo Schiaparelli. «(o despenhamento) É plausível. Tendo em conta o que se sabe agora (a aterragem suave) é improvável», comentou o cientista da Agência Espacial Europeia (ESA), citado pelo The Guardian.
Grande parte do mistério estará agora centrada nos propulsores que o módulo ativou para travar a queda livre rumo ao solo marciano. Os dados recebidos por rádio revelam que estes propulsores só terão funcionado três a quatro segundos – quando o roteiro da missão previa 30 segundos de funcionamento, para garantir uma redução de velocidade que garantisse uma aterragem sem percalços.
O módulo manteve o envio de dados durante os 19 segundos que se seguiram à desativação dos propulsores. O computador de bordo ainda chegou a sinalizar a entrada na sequência, mas o módulo deixou de enviar sinais 50 segundos antes do esperado.
Jorge Vago acredita que a desaceleração alcançada pelo curto período em que os propulsores funcionaram tenha sido insuficiente para evitar a destruição. «Tendo em conta que estamos a falar de um “lander” que está a descer a velocidades de 200 Km/h ou coisa do género… isto pode querer dizer que perdemos o “lander”», acrescenta Jorge Vago, citado pelo The Guardian.
Apesar destas declarações mais pessimistas (ou realistas…) de um dos cientistas que trabalham na missão ExoMars, a ESA ainda não confirmou oficialmente a perda do “lander” Schiaparelli.
Os dados que têm vindo a ser trabalhados pelos cientistas da ESA revelam que os primeiros cinco minutos da descida do módulo Schiaparelli decorreram sem aparente problema. O radar foi ativado como previsto, assim como o escudo protetor de calor, que evita que o módulo expluda com os efeitos do atrito, e os paraquedas que contribuem para a desaceleração do módulo antes de entrar numa curta queda livre, antes da aterragem.
Os dados revelam ainda que todos estes dispositivos foram ativados quando se tratou de reduzir a velocidade de descida de 21 mil km/h hora para uma velocidade que não excedia os 240 Km/h. Os cientistas confirmam que o paraquedas terá sido ativado 30 segundos antes do tempo – mas tudo leva a crer que terão sido os propulsores e não os paraquedas os causadores de um eventual despenhamento.
Na memória dos investigadores da ESA deverá figurar a experiência registada com o Beagle 2, uma sonda desenhada para aterrar em Marte, que viajou em 2003 juntamente com o orbitador Mars Express, mas viria a ser dada como perdida até, ser redescoberta dez anos depois, como estando operacional, mas incapaz de comunicar devido a uma falha nas antenas.
Na ESA, há a expectativa de que não seja necessário esperar tanto tempo para descobrir a localização do módulo Schiaparelli. A NASA, que se manteve fora desta missão e mantém-se na vanguarda da exploração de Marte, poderá contribuir para revelar o que realmente se passou: O orbitador Mars Reconaissance está a recolher imagens do local em que o “lander” Schiaparelli terá caído. A análise das imagens poderá prolongar-se por semanas ou meses.
A denominação de “lander” deve-se ao facto de o módulo Schiaparelli ter sido desenhado com o objetivo de aterrar na superfície de Marte. A missão ExoMars conta ainda com um segundo módulo, o TGO, que ontem foi bem sucedido a entrar em órbita. Este módulo não deverá aterrar no planeta Marte e tem como emissão encaminhar as comunicações do lander Schiaparelli e ainda o estudo da atmosfera do planeta Vermelho.