No dia 27 de fevereiro de 2013 o blogue dos Anonymous Portugal publicou mais um vídeo com um apresentador mascarado de Guy Fawkes e a tradicional voz sintetizada. Apesar de disponível para todos os internautas, a mensagem não pretendia dar a conhecer uma ação concertada contra o Governo ou qualquer outra instituição nacional, e apenas tinha por destinatário o mentor do site TugaLeaks: «Rui Cruz, não somos o teu exército pessoal, cães amestrados ou ferramenta publicitária para alimentar o teu ego e necessidade de protagonismo».
Durante os últimos dois anos, o TugaLeaks manteve uma relação de proximidade com os Anonymous Portugal. Além do destaque dado às atividades do grupo de hacktivistas, o site mantido por Rui Cruz dispõe de acesso privilegiado para a publicação de textos em diferentes páginas relacionadas com os Anonymous. Questionado pela Exame Informática, o mentor do TugaLeaks garante que não é membro dos Anonymous Portugal e que apenas partilha dos mesmos «ideais de transparência» que estão na base de movimentos de hacktivismo ou de sites como o Wikileaks.
Rui Cruz pode não pertencer aos Anonymous Portugal, mas são vários os indícios que revelam que os Anonymous Portugal também não querem Rui Cruz. O grupo de hacktivistas acusa o criador do TugaLeaks de se ter apoderado da página Anonymous Portugal no Facebook, e exige que abandone essa página, a fim de «salvaguardar a ideia Anonymous».
No vídeo publicado no blogue oficial, os Anonymous Portugal exigem ainda que outro internauta, que alegadamente ajudou a criar um outro subgrupo de hacktivismo conhecido como Anonymous PT Legion, deixe de fazer publicações na página oficial que o movimento mantém no Facebook. A identidade deste último membro não foi revelada.
Os Anonymous Portugal negam qualquer ligação com a página do Facebook do subgrupo Anonymous PT Legion: «Devido às constantes acções de desrespeito e censura para com os demais, com as quais os Anónimos (sic) não se identificam e as ligações muito próximas com o Tugaleaks e assim funcionando a favor das necessidades pessoais do Rui Cruz, reconhecemos esta página como algo prejudicial para os Anonymous e a sua existência não é bem-vinda».
Rui Cruz nega que a mensagem de vídeo tenha sido proferida pelos líderes oficiais dos Anonymous Portugal. «Não sei porquê, eu e o Tugaleaks fomos apanhados a meio de uma luta entre grupos dos Anonymous Portugal», garante. No blogue pessoal, Rui Cruz reage à mensagem de vídeo dos hacktivistas aludindo a um eventual diferendo entre os subgrupos Anonymous PT Legion e os Anonymous Legion. O responsável pelo TugaLeaks garante ainda ter dado início a uma queixa-crime contra quem publicou os seus dados pessoais na Internet.
Para Rui Cruz não há muitas dúvidas: os Anonymous Portugal estão clima de guerra civil. Como prova disso mesmo, lembra que os PT Legion não publicaram o vídeo com acusações contra a sua pessoa, enquanto os Legion e ainda outro subgrupo conhecido por SideKingdom12 procederam à publicação desse mesmo vídeo.
Apesar de garantir que não é um Anonymous, Rui Cruz diz que o Tugaleaks só vai parar com a publicação de textos naquela que deveria ser a página oficial dos hacktivistas portugueses no Facebook, se houver uma reunião no canal de IRC que tome essa decisão.
A PJ na casa de Rui Cruz
Alguns observadores do submundo do hacktivismo dão a conhecer uma versão um pouco diferente da de Rui Cruz. «Estamos a assistir a uma viragem anti-Rui Cruz e não tanto a uma guerra entre grupos. Muitos dos Anonymous Portugal estão a sentir-se incomodados pela ação de Rui Cruz com o TugaLeaks», explica à Exame Informática um especialista nesta área, que prefere não se identificar.
O mesmo perito recorda que Rui Cruz foi constituído arguido num processo movido pela Polícia Judiciária (PJ), faz hoje precisamente um ano. E que, apesar de Rui Cruz não o mencionar num texto que publicou por essa altura na Net, este processo fez mais arguidos entre os membros do grupo de hacktivistas – o que terá abalado as relações entre o criador TugaLeaks e vários membros do grupo de hacktivistas.
«Antes desse processo, houve um hacktivista dos EUA que referiu, nos meandros que os Anonymous Portugal frequentam, que não se identificava com os ataques que estavam a ser feitos desde o final de 2011 e que se prolongaram pelo início de 2012. Depois disso, houve vários membros dos Anonymous Portugal que começaram a ser “kickados” dos canais de Twitter e IRC», explica o perito. «Os verdadeiros Anonymous continuam juntos. Apenas querem expulsar algumas pessoas do grupo» acrescenta esta fonte bem colocada nos meandros do hacktivismo português.
Um outro especialista em segurança na Internet, que também prefere não ser identificado, recorda que o movimento que Anonymous Portugal sempre foi composto por vários subgrupos, como os Legion, os SideKingdom 12 ou os LulzSec Portugal, mas diz desconhecer qualquer situação de luta interna: «Não sei se estes grupos se desintegraram; apenas reparo que não têm estado muito ativos».