Diga três vezes digitização. Conseguiu? Então, não precisa de aulas de dicção. Por que é que será necessário aprender a dizer tamanho palavrão? Resposta possível: porque boa parte das soluções que hoje exigem uma configuração, uma aplicação, uma instalação, um componente de hardware ou um contrato vão estar na Internet de forma simples como um serviço. Pelo menos é o que garantem as previsões de futuro da Cisco.
Para a gigante das redes chegou a hora de uma nova era nas tecnologias. Outra vez. Só que agora trata-se de uma nova camada de serviços que tira partido da proliferação de objetos conectados e do manancial de dados disponível e que dá algum sentido à informação, criando um serviço valorizado pelo utilizador porque está em consonância com o contexto em que se encontra.
Complicado? Então, siga uma resposta mais simples: Uber, Hyp, Airbnb, Crowdmed, Coursera ou Peadpod. São novas plataformas que estão disponíveis na Internet (e geralmente no telemóvel) e que tiram partido da participação das multidões, da informalidade do meio tecnológico e da organização da informação. Exemplos: a Crowdmed mais não é que uma plataforma que permite juntar casos clínicos raros e as diferentes abordagens que merecem dos médicos; a Coursera faz algo similar mas na área da formação e permitindo a escolha de professores; em contrapartida, a Peapod traz para os túneis do metro estantes de supermercado que permitem rechear uma dispensa com a câmara do telemóvel; a Hyp e a Uber são parecidas, mas a primeira transporta objetos a segunda transporta pessoas.
Muitas outras soluções deverão surgir nos próximos tempos. John Chambers, o homem que liderou a Cisco durante 20 anos, apontou, por mais de uma vez, a digitização como a consequência direta da crescente Internet das Coisas. «A Internet das Coisas vai acontecer de qualquer forma, quer queiramos ou não. A questão é como os governos dos diferentes países vão pegar neste tema», vaticinou no dia da sua última conferência de imprensa enquanto CEO da Cisco.
Para Chambers, o Governo francês é um dos melhores exemplos da digitização em curso. Todos os ministérios franceses foram convidados a criar planos que permitem a migração de serviços e funcionalidades para o ambiente digital. Estas iniciativas vão para lá da programação e da compra de equipamentos. «Cerca de 90% dos trabalhos criados nos próximos 15 anos vão exigir conhecimentos de tecnologias», estima Chambers, lembrando que cabe às empresas e governos criar as condições para que os empregos destruídos pelas tecnologias sejam compensados com a migração de mão de obra para funções que vão ajudar a suportar as novas tendências.
E de súbito os recursos passaram a estar nas nuvens. É lá que se encontram os repositórios de dados que permitem lançar os diferentes serviços, e é de lá que vêm todas as ferramentas que permitem criar um serviço em meses, semanas ou mesmo dias. Com esta tendência para o ready made, é o ciclo de produção que acelera.
Joseph Bradley, vice-presidente da Cisco com a pasta da Internet de Todas as Coisas (Internet of Everything), dá um exemplo de como a economia tende a acelerar, tornando obsoleto o real time: «Vamos poder pegar nos dados e saber 40 minutos antes que vai haver uma fila na caixa registadora de um supermercado».
Com os dados na mão, apenas será surpreendido quem quiser. Ou quem não tomar as medidas necessárias para garantir uma fatia no futuro mercado das tecnologias. A Cisco dá um bom motivo para embarcar na nova tendência: a Internet das Coisas pode valer 19 biliões de dólares em poupanças, benefícios e lucros.