Televisores. Impressoras. Telemóveis. Comandos de televisores. Carregadores de telemóveis e computadores. E ainda calculadoras, tablets, teclados, boxes, scanners, consolas, máquinas de lavar roupa e loiça, ares condicionados e um sem número de dispositivos elétricos e eletrónicos que vão parar ao lixo todos os anos. De acordo com o estudo Countering WEEE Illegal Trade (CWIT), na UE 4,7 milhões de toneladas de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE) foram incorretamente geridos na Europa em 2012. A este valor junta-se outro: 400 mil toneladas de REEE que foram exportados para fora dos países de origem sem a devida documentação.
Em Portugal, o cenário também não é animador: apenas 25% dos REEE, são devidamente tratados – o que contrasta com os 35% de REEE que foram encaminhados para sistemas de reciclagem e valorização na Europa durante 2012.
Em 2012, a Amb3e e a ERP, as duas entidades portuguesas que se dedicam à reciclagem de equipamentos eletrónicos e elétricos, trataram em 2012 cerca de 40 mil toneladas de REEE.
O estudo Countering WEEE Illegal Trade foi finaciado pela UE e contou com a participação da Interpol, da Universidade das Nações Unidas (UNU), do Instituto Inter-regional de Investigação de Crime e Justiça das Nações Unidas (UNICRI), do WEEE Forum, da Cross Border Research Association, e da Zanasi & Partners e Compliance and Risks. Em Portugal, a análise ao tratamento de REEE foi levada a cabo pela Amb3E, entidade que gere a Rede Electrão e que é membro do WEEE Forum.
Durante dois anos, as diferentes entidades dedicaram-se a analisar os fluxos e circuitos dos dispositivos elétricos e eletrónicos abandonados por empresas e consumidores. Foi a partir desse estudo que chegaram a um número: em 2012, terão sido produzidas 9,5 milhões de toneladas de REEE.
Apenas 3,3 milhões de toneladas (os já referidos 35%) não vão para ao lixo indeferenciado e acabam em sistemas de reciclagem. Também em 2012, 1,3 milhões de toneladas de REEE fora exportados sem qualquer documentação. Este número é composto por 30% de REEE (400 mil toneladas) e 70% de equipamentos que ainda estão a funcionar – e que poderão indiciar que parte das máquinas que os europeus já não querem ganham vida nova noutras paragens.
No caso dos REEE, que podem não ser mais que componentes ou máquinas avariadas, é a saúde pública e ambiental que está em causa: um estudo da Universidade das Nações Unidas lembra que, nas 41,8 milhões de toneladas de aparelhos que foram abandonados em 2014, se encontram materiais como chumbo no vidro, mercúrio, crómio, cádmio e várias matérias nocivas para a camada de ozono.
«O fluxo de equipamentos elétricos e eletrónicos é, de todos os fluxos de resíduos mundiais, aquele que tem maior crescimento. Se juntassemos todo o lixo eletrónico mal gerido na Europa, poderíamos construir com ele um muro de 10 metros de altura, que fosse de Oslo até à ponta mais distante de Itália. Os componentes e metais valiosos, incluindo matérias-primas críticas, precisam de ser recolhidos de forma segura e reciclados ao máximo», descreve Pascal Leroy, secretário-geral do WEEE Forum, citado pelo comunicado da Amb3e.
No mesmo comunicado, Pedro Nazareth, diretor-geral da Amb3e, lembra a importância deste estudo para conhecer em detalhe o que acontece aos gadgets quando deixamos de os ver: «O projeto CWIT foi lançado para identificar as lacunas em termos de regulação e procedimentos e para sugerir melhorias tangíveis no tratamento e gestão de REEE. Estas são questões de vital importância e necessitam de uma maior atenção e fiscalização no contexto internacional. Conseguir cumprir as metas europeias é um grande desafio, no qual todas as pessoas representam um papel crítico».
Além de alertar para o facto de apenas 0,5% das exportações de REEE terem sido alvo de penalizações por não respeitarem as normas, o estudo lembra ainda que quase um terço dos estados membros da UE tarda em implementar medidas restritivas às práticas ilegais.
Entre as recomendações do estudo, figuram a criação de uma autoridade de âmbito nacional, formação de juízes, controlo do comércio potencialmente ilegal nas sucatas, e um sistema de gestão de informação.