Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade de Leeds, Reino Unido, acaba de desencadear um alerta para os efeitos negativos que os capacetes de realidade virtual podem ter no desenvolvimento das crianças.
O estudo liderado por Faisal Mushtaq analisou os efeitos gerados pelo uso de capacetes de realidade virtual em crianças entre os oito e os 12 anos de idade. As sessões não terão superado os 20 minutos com jogos desenhados para tirar partido da ilusão de tridimensionalidade providenciada pelos pequenos ecrãs colocados junto aos olhos. As análises levadas a cabo nos momentos subsequentes às sessões de teste permitiram apurar que duas das crianças que participaram na experiência registaram degradação da denominada acuidade estereoscópica, que permite aos humanos ter noção das distâncias; num terceiro caso, uma criança revelou uma perda substancial do equilíbrio.
Em declarações reproduzidas pelo Guardian, Mark Mon-Williams, especialista em psicologia cognitiva da Universidade de Leeds, lembra que a idade é um fator a ter em conta nos efeitos produzidos pela realidade virtual: «Nos adultos, é possível que (a realidade virtual) gere dores de cabeça e dores nos olhos. Mas nas crianças os efeitos a longo prazo são simplesmente desconhecidos». Os efeitos negativos produzidos pela realidade virtual terão por origem a forma como os conteúdos imersivos são apresentados: «num dispositivo de realidade virtual, um mundo virtual de três dimensões é apresentado num ecrã de duas dimensões gerando tensão no sistema visual».
O estudo foi levado a cabo tendo como parceiros algumas das principais empresas que têm vindo a trabalhar com realidade virtual no mercado britânico, informa o Guardian. Apesar deste apoio da indústria, os investigadores da Universidade de Leeds recordam que, a par da evolução tecnológica, a realidade virtual deverá ter em conta os eventuais danos que poderá gerar na saúde pública dos utilizadores mais novos.
Mark Mon-Williams alerta para a necessidade de desenvolver novos estudos que permitam perceber como é que se pode evitar danos para a visão e para o equilíbrio das crianças, tendo em conta a forma como olham para os objetos virtuais e a noção de distâncias que mantêm no mundo real.
«A coisa mais importante na realidade virtual é que o utilizador deixa de estar limitado à mecânica de Newton. É criado um mundo novo, mas isso tem o potencial de desencadear interações que não são naturais. Pode ser que haja soluções válidas e simples para os problemas que revelámos. Apesar disso, há uma imensa mudança que se perfila na forma como vemos as coisas. Queremos ter a certeza de que há uma implementação correta desde o início e, para ser justo, também a indústria da realidade virtual, que tem vindo a encarar este estudo de forma bastante séria», sublinha Mark Mon-Williams.