A polémica está instalada: deve uma marca tecnológica como a Amazon ceder tecnologia de reconhecimento facial para polícia dos EUA? A Amazon não teve muitas dúvidas e já tratou de assinar contrato para o fornecimento da plataforma Rekognition para as polícias dos estados de Oregon e da Florida. No caso do estado do Oregon, a plataforma de reconhecimento de rostos tem sido usada tendo como referência uma base de dados de 300 mil fotos tiradas a suspeitos de crimes ou ilícitos ou pessoas desaparecidas (os denominados mug shots).
A American Civil Liberties Union (ACLU) e mais 33 grupos ativistas não demoraram a reagir: depois de garantirem o acesso a e-mails trocados pelas polícias dos dois estados americanos e a Amazon, os ativistas dos direitos humanos e da liberdade individual concluíram que o uso do reconhecimento facial em rondas policiais assume contornos de uma «vigilância autoritária».
Os ativistas também apontaram o dedo aos efeitos que poderá ter o uso do reconhecimento facial em câmaras que circulam ao peito dos agentes de polícia. Originalmente, uso destas câmaras individuais tinha como principal propósito monitorizar as atividades da polícia, recorda Matt Cagle, dirigente da ACLU. «Esta tecnologia vai transformar estes dispositivos em máquinas de vigilância do público», acrescenta de seguida o responsável da ACLU, quando entrevistado pela BBC.
A Amazon tem uma visão bem mais pragmática e otimista desta matéria – e recorda que a mesma tecnologia de reconhecimento pessoal que mereceu as críticas dos ativistas também já permitiu descobrir crianças desaparecidas. A gigante do comércio on-line, que entretanto se expandiu para a produção de software, alojamento de dados e assistentes pessoais, considera que um eventual mau uso da tecnologia não pode ser suficiente para pôr fim ao uso dessa tecnologia.
«Imagine que os consumidores não podiam comprar um computador porque era possível usar esse computador com propósitos ilegais», responde a marca num comunicado enviado para a BBC.
Na ACLU, surge outro argumento que leva a acreditar que a polémica está longe de estar fechada – até porque nem a Amazon nem as polícias dão sinais de poderem vir a desistir do uso de sistemas de reconhecimento facial nas rondas diárias. «Estamos muito preocupados com a promoção que a Amazon tem vindo a fazer dentro deste mercado da vigilância sem aplicar restrições que, de forma lógica, limitar o uso que é dado pelo governo e há até governos locais e forças da lei de âmbito local que não estão a respeitar os seus próprios limites», conclui Matt Cagle.