O relatório final feito por um comité parlamentar britânico, dedicado à investigação nas áreas da disseminação de falsa informação política online, trouxe más notícias para a rede social Facebook, conhecida por estar associada ao escândalo da Cambridge Analytica.
Os avisos têm sido vários por parte do Information Commissioner’s Office (ICO), um órgão governamental que procura manter a privacidade e a integridade de dados dos indivíduos, que tem vindo a pressionar o Facebook a alterar o seu modelo de negócio para que os seus utilizadores nunca tenham os seus dados em risco.
No verão de 2018, o ICO pediu que houvesse um “cessamento ético” dos anúncios para redes sociais durante os períodos de campanha política, advertindo para o risco do desenvolvimento de um «sistema de vigilância de controlo de voto».
De acordo com a TechCrunch, o inquérito do parlamento inglês procurou também apurar a forma como a Facebook utiliza dados para aprimorar os seus negócios, nomeadamente prover dados pessoais de utilizadores a grandes empresas de publicidade de forma a gerar mais lucro através da sua própria plataforma. Examinou ainda o facto da Facebook alegar ter sido vítima, e não perpetradora, de um uso abusivo por parte da Cambridge Analytica, que em 2014 pagou a um programador, que tinha acesso ao às plataformas da rede social, para extrair a informação de milhares de utilizadores, com o objetivo de influenciar processos eleitorais.
Contrariamente ao que a rede social alega, a decisão final do comité inglês indica que o modelo de negócio da Facebook sobrevive da venda abusiva de informação pessoal dos utilizadores.
«A Facebook não tem uma parte ativa no combate contra apps “corruptas” ou “estranhas’” o seu modelo de negócio está em conformidade com estas apps, que recorrem a este método para lucrar», explica o comité no relatório.
«Isto explica o porquê da Facebook ter contratado as pessoas que criaram estas apps, como por exemplo Joseph Chancellor, criador e co-fundador da GSR, que vendeu a informação da Facebook à Cambridge Analytica. Nada nas atitudes da Facebook fundamenta os argumentos de Mark Zuckerberg, que acreditamos ter entrado numa crise de relações públicas, assim que o seu modelo de negócio foi exposto.»
«Isto é apenas um exemplo da má-fé que justifica a atitude reticente do governo para com a Facebook. É cada vez mais claro que a Facebook age apenas quando os seus “segredos” são revelados ao grande público. Situações desta natureza ocorreram já em 2015 e 2018.»
A Facebook respondeu num comunicado às declarações do parlamento inglês, afirmando que:
«Nós partilhamos as preocupações do parlamento inglês sobre a circulação de notícias falsas e sobre a integridade das eleições (…) estamos abertos a uma maior regulação e a seguir as recomendações do comité. Temos inclusive feito algumas mudanças significativas no que concerne a anúncios políticos na nossa plataforma. Agora têm de passar por uma aprovação e ser autorizados pela Facebook, antes de aparecerem ao público.»
Contudo, no ano passado a Facebook teve de pagar uma multa de 500 mil libras (aproximadamente 570 mil euros), que é o valor máximo possível atribuído segundo a lei inglesa, no seguimento do escândalo da Cambridge Analytica.
Durante a investigação que tem estado em curso, desde o ano passado, foram já ouvidas 73 testemunhas, das quais 23 prestaram declarações orais, bem como foram recolhidas 170 declarações escritas. Ao todo foram feitas pelo comité mais de 4.350 questões.