Será que um investigador dá um bom empresário? Nove equipas de investigadores portugueses que participaram no programa HiTech vão poder responder à questão nos próximos meses. A 17ª edição do programa de empreendedorismo chegou ao fim esta terça-feira com a apresentação de nove ideias de negócio que têm a medicina e a saúde como principais áreas de atuação, mas também contemplam soluções que têm por objetivo melhorar o ambiente ou a alimentação animal. Um adesivo antimalária, um sistema que monitoriza bactérias resistentes a antibióticos com inteligência artificial, sensores que evitam perdas em redes de distribuição de água e três soluções relacionadas com o cancro desfilaram, pela primeira vez, perante uma plateia de alunos, investidores e entusiastas da polo de Carcavelos da Universidade Nova de Lisboa.
Pedro Vilarinho, diretor-geral da HiSeedTech, justifica o predomínio dos projetos relacionados com a saúde, com o panorama da investigação nacional: «Em Portugal, a investigação científica é muito ligada às ciências da vida. Nas engenharias, os finalistas dos cursos vão para o mercado para ganhar dinheiro, mas nas ciências da vida, que costumam captar os melhores alunos universitários, não assim tantas oportunidades de carreira sem ser a investigação».
Depois de 15 edições na associação empresarial Cotec, o programa de empreendedorismo HiTec vive atualmente a segunda edição na associação HiSeedTech, que tem na lista de 27 associados a Galp, Everis, BBVA, Santander, Jenssen, entre outros nomes sonantes. Pedro Vilarinho considera que a mudança de entidade promotora não pôs em causa a independência do programa, mas admite novidades para a edição seguinte do programa de empreendedorismo. «Queremos gerar mais valor para os associados e por isso vamos fomentar maior proximidade com entre projetos e associados», refere Pedro Vilarinho, sem fornecer detalhes.
Os números ajudam a confirmar que os programas HiTech já garantiram um lugar na histório do empreendedorismo de base científica nacional. Em 17 edições, as startups que passaram pelo HiTech captaram mais de 40 milhões de euros de investimento, e foram responsáveis por um terço das candidaturas apoiadas pelo programa europeu SME Instruments. Mais de 100 patentes internacionais foram registadas por projetos iniciados no HiTech, recorda Pedro Vilarinho.
«Tem faltado continuidade no investimento. Tem havido investimentos no estágios iniciais, não investimento que consiga catapultar as empresas para novas fases de crescimento. Era importante que o nosso mercado conseguisse captar investimento estrangeiro que não obrigue estas startups a irem para o estrangeiro», conclui o diretor-geral da HiSeedTech.
Eis os projetos finalistas do programa HiTech:
AMCT- Anti-malarial combination therapy: desenvolvimento de um adesivo dérmico que combina dois medicamentos: um primeiro que elimina parasitas causadores da malária durante uma primeira infeção; e ainda um segundo que pretende eliminar os parasitas que não foram eliminados pelo primeiro fármaco. O adesivo é apresentado como tendo a capacidade para disponibilizar dosagens controladas e contínuas. Projeto levado a cabo por investigadores do Instituto de Medicina Molecular.
Clever Diagnostics – desenvolvimento de um método de diagnóstico para doentes que estão em tratamento de Leucemia Mieloide Aguda. O novo método tem por base vesículas extracelulares (EVs) que contêm proteínas, RNA e ADN que podem funcionar como indicadores do estado em que se encontram as células – e também podem ser úteis para detetar células malignas associadas à Leucemia Mielóide Aguda. Com o novo método, os investigadores acreditam poder detetar quantidades residuais de células malignas que permanecem no corpo de pacientes que passam por terapias. O que pode ser útil para aplicar novos métodos de terapia e evitar situações de doença recidiva. Projeto de desenvolvidpo pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.
Hydroledge – projeto que levou ao desenvolvimento da plataforma Aquadoctus, que tem por objetivo reduzir perdas de água e criar funcionalidades que permitem antecipar medidas relacionadas com a manutenção ou reparação da rede de distribuição de água. O projeto pretende entrar no mercado através de serviços de consultoria. Projeto proposto por investigadores do Instituto Superior Técnico e Instituto Politécnico de Setúbal.
Enki Hydrotec – Projeto com vista ao desenvolvimento de uma plataforma que recolhe informação de diferentes sensores em sistemas de tratamento de águas residuais. A Enki Hydrotec pretende diferenciar-se da concorrência com sensores mais pequenos, baratos e eficientes para uso nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). Projeto levado a cabo por investigadores da Universidade do Minho.
IR Bactyping – Startup iniciada na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto com o objetivo de identificar as seis estirpes de bactérias resistentes a antiobióticos que figuram na lista das mais ameaçadoras para os hospitais da atualidade. A solução proposta pelo projeto IR Bactyping pretende criar uma solução bastante mais rápida e barata que os processos atuais através de uma combinação de infravermelhos e inteligência artificial.
NewAlgaFeed – Projeto levado a cabo por investigadores do Politécnico de Setúbal que tem por objetivo criar uma nova alimentação para animais com base microalgas. Além de terem um valor nutritivo superior à soja (que é a principal referência na alimentação animal da atualidade), as microalgas têm a vantagem de usarem métodos de produção mais amigos do ambiente. Para o efeito, os investigadores do Politécnico de Setúbal pretendem criar microalgas com resíduos agroindustriais em culturas mantidas em biorreatores.
Nitrogen Sensing Solutions – Ideia de negócio que tem por base um sensor multiparamétrico para unidades de aquacultura. Além de medir níveis de amónia, nitrito e nitrato, o novo sensor permite dispensar o recurso a laboratórios, para passar a disponibilizar análises rápidas e baratas em cada tanque monitorizado. O projeto foi desenvolvido por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa; e do Instituto Universitário Egas Moniz.
T-ALL therapies – projeto que levou a desenvolvimento do produto miRToTAL, com vista ao lançamento de uma nova terapia específica para a leucemia das células T. Este tipo de cancro hematológico é conhecido por ser agressivo e por implicar terapias sujeitas a grades taxas de recaída. A T-ALL therapies propõe-se a aumentar a taxa de sucesso dos tratamentos da leucemia das células T através de um método de eleimina células doentes seletivamente. O projeto foi levado a cabo por investigadores de Medicina Molecular.
Triple Hope – Projeto criado por investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde que tem por base um teste genómico que promete facilitar a terapias de precisão do cancro da mama triplo negativo. O novo prognóstico tem por objetivo indicar métodos de eliminação do tumor que são mais indicados para cada caso, tendo em conta as combinações terapêuticas de quimioterapia e imunoterapia existentes.