O mercado de jogos está a atingir uma dimensão que escapa à maioria de nós. É que o gaming (a denominação inglesa até já se tornou banal em Portugal, como se pode comprovar pela visita às principais lojas online de produtos tecnológicos) não se refere unicamente às vendas de jogos, consolas e periféricos. Há também que ter em conta fenómenos associados como os e-sports e o streaming em plataformas como o Twitch.
Parece tudo muito etéreo? Vamos concretizar com números: um jogo como o GTA V, originalmente lançado em 2013, já vendeu mais de 70 milhões de cópias (e continua a ter um PVP oficial de €69,99 para PS4 e Xbox One); os e-sports vão gerar receitas de 493 milhões de dólares este ano e atingirão os 1,1 mil milhões em 2019; e o Twitch já contava com 100 milhões de espetadores mensais no ano passado. Como disse o agora secretário-geral das Nações Unidas, «é fazer as contas»…
Claro que nem tudo é um mar de rosas e o potencial deste mercado atrai também quem está interessado em lucrar de forma ilícita. Veja-se o exemplo que veio esta semana a público em que um grupo de hackers criou uma ferramenta que enganava os servidores da Electronic Arts para pensar que tinham sido disputadas milhares de partidas no FIFA e depois vendia as “moedas” obtidas no mercado negro. Uma brincadeira de meninos? «Olhe que não, olhe que não» (continuando na senda das citações de políticos portugueses)… Feitas as contas, estes meninos conseguiram obter uma verba que pode variar entre os 15 e os 18 milhões de dólares, avança o FBI.
Mas nem só de dinheiro vive o mundo do gaming. Parte fundamental para o sucesso (ou fracasso) de um jogo prende-se com a capacidade de criar uma ligação afetiva com o utilizador. É isso que leva, por exemplo, a debates intermináveis sobre qual é o melhor simulador de futebol: PES ou FIFA? A questão coloca-se todos os anos e o fervor com que cada lado da barricada defende a sua opinião deve servir como indicador da paixão com que um jogador vive este universo.
Quem vive este universo de forma assumidamente diferente é Conan O’Brien, um humorista norte-americano que apresenta um talk show televisivo. Conan tem uma rubrica humorística (nunca é demais realçar este aspeto) intitulada Clueless Gamer (que pode ser traduzido por algo como “Jogador sem noção”) e a última análise que fez foi ao jogo Final Fantasy XV, onde esteve acompanhado pelo ator Elijah Wood. O resultado pode ser visto no vídeo abaixo e, apesar de ter gerado gargalhadas a muitos, outros houve que não acharam piada a adjetivos como «uma épica perda de tempo», sendo que ainda foi utilizada a expressão “blue balls”…
Vários fãs da série Final Fantasy sentiram que as críticas de Conan (penso que já referimos algumas vezes que ele é um humorista…) eram injustas e insultuosas para os criadores do jogo, que levou 10 anos a ser desenvolvido. Mais do que analisar a reação dos fãs, interessa constatar o quanto o gaming impacta a vida de produtores e jogadores, que é como quem diz, o aspeto financeiro ou o emocional. E interessa analisar também a forma como começa a canibalizar outras formas de entretenimento. Por exemplo, de acordo com a consultora Newzoo, 76% dos fãs de e-sports admitem que a paixão pelos jogos eletrónicos lhes rouba tempo para assistir a eventos desportivos tradicionais.
Parece, portanto, que estamos num ponto sem retorno. O gaming está a ganhar força e tudo indica que continuará a todo o vapor. Algo para que todos os fabricantes de PCs parecem atentos, como se poderá comprovar na lista de presenças no Lisboa Games Week, que decorrerá neste fim de semana. Os jogadores têm razões para enfrentar o futuro com um sorriso nos lábios. E, já agora, com sentido de humor também.