A ciência e a tecnologia são, há muito, motorizadas pela criação partilhada do conhecimento. Aliás, basta olhar para a lista dos Nobel para ver como os da Física, Química e Medicina… são, habitualmente, atribuídos a dois ou três investigadores que provêm de diferentes países. Olhemos para a exploração espacial e é fácil encontrar nas grandes organizações estatais, e nas privadas, um consórcio de técnicos e cientistas das mais variadas proveniências. O mesmo acontece nas maiores empresas privadas de tecnologia. Google, Facebook, Microsoft, Amazon, Apple, IBM… todas partilham o tema da diversidade cultural.
Este cocktail de nacionalidades é um dos ingredientes essenciais à criação de conhecimento. E isso ficou mais uma vez provado este mês com a revelação da primeira imagem de um buraco negro. A foto desfocada e de cores saturadas, mas apaixonante, mostrada ao mundo é o resultado de duas décadas de um esforço que envolveu mais de 200 investigadores espalhados um pouco por todo o mundo.
Esta universalidade também foi crítica na criação da infraestrutura que permitiu a captação da imagem: foram construídos 8 telescópios em diferentes geografias. A cooperação científica foi ao pormenor dos 0s e 1s que compõem a linguagem das máquinas. O algoritmo que interpretou os milhões de dados gerados pelos telescópios foi desenvolvido por três institutos.
Esta partilha pelo bem comum, a criação do conhecimento, é, hoje, uma lição a uma classe política que reina sobre países, organizações europeias e mundiais.
Olhando apenas para o seu umbigo, a generalidade dos partidos políticos concentra-se na gestão das expetativas do eleitorado e está focada em seguir um guião que privilegia, na maioria das vezes, o interesse particular em detrimento do bem comum. Como seria se a imagem do buraco negro ficasse a cargo de um consórcio político? Seriam gastos os mesmos 20 anos na organização de comissões que iriam desenhar cadernos de encargos; iam criar legislação para proteger a privacidade do buraco negro; desenhar um sistema de tributação que fizesse com que as empresas candidatas ao projeto pagassem por conta pelos lucros que nunca iriam obter; abririam concursos públicos desenhados à medida de alguns “clientes”… seria o habitual desfilar da entropia que alimenta a burocracia típica dos processos políticos.
Basicamente, duas décadas depois estaríamos perante um gigante pesadelo financeiro, alguns escândalos de luvas, várias demissões na comissão… e nada de buraco negro. O que leva à questão primordial: como seria o mundo se não fosse governado pelos oportunistas da oratória e as rédeas fossem entregues aos melhores técnicos? Bem melhor. Tenho a certeza.