Ouço muitas vezes o comentário que o mundo mudou e que o cliente hoje é diferente, mas se repararmos bem, tem sido sempre assim, o mundo evoluiu e vai continuar a evoluir. A diferença é que agora a componente digital ocupa um papel de destaque face à tecnologia disponível e a um mercado mais exigente que, se não nasceu já com esta expectativa de mudança constante, entretanto abraçou esta necessidade como um dado adquirido. A nossa missão como agentes de mudança é a entrega dessa expectativa todos os dias.
Mas vamos por partes: qual é a definição afinal de Transformação Digital? Com muita pena minha para quem esperava uma resposta sucinta a esta pergunta, a resposta é que não sei e não há mal por isso. O que sei por experiência própria é que não há Transformações Digitais iguais, cada caso é um caso e não sinta que tem de copiar. Por isso, a definição certa da sua Transformação Digital é o primeiro passo. O que pretende afinal resolver? É importante defini-lo desde o início de forma específica. Tem que ser concreto e não subjetivo. Não hesite em utilizar os dados que tenha disponíveis para concretizar essa definição.
Com a definição do seu desafio, há que identificar os use cases que pretende resolver, ou seja, os casos concretos. Paralelamente, é importante identificar quem é o sponsor da ideia na sua organização, quem é afinal o maior interessado nesses use cases, quem pode ajudar na definição concreta desse desafio e no decurso do projeto. Defina os objetivos (KPI´s) que quer atingir e tenha um racional para isso, seja ele qual for. Não subestime a importância do seu sponsor, formalize e crie um modelo de governance estruturado. Sim, porque isto de transformar tem muito que se lhe diga, erra-se muitas vezes e aprende-se ainda mais. Por isso, nada como um bom erro para ter uma ainda melhor aprendizagem para ocasiões futuras.
Depois disso, certifique-se que a organização fala a uma só voz – a comunicação é talvez o fator mais importante nesta dita transformação. Desde a pessoa com mais responsabilidades na hierarquia até à pessoa mais “júnior”, tem de haver um alinhamento nos objetivos e nas necessidades e isso consegue-se através de uma comunicação constante e consistente. Repita a mensagem muitas vezes. Na maior parte dos casos, vai precisar de uma equipa multidisciplinar, que cubra todas as áreas da sua organização.
Tente não ceder à tentação de pensar que sabe tudo. Transformação Digital de fundo, faz-se com representantes de todas as áreas. Quem não trabalhou já em projetos onde, no final, alguém se esqueceu de adicionar os seus requerimentos? Por isso, a criação das scrum teams é crítica para que haja um alinhamento das necessidades e especificidades de cada área. A dimensão da sua Transformação ditará a alocação de tempo que precisa dos recursos disponíveis, mas correndo o risco de ser um pouco egoísta, diria que é bom ter 100% de dedicação. A Transformação é uma tarefa diária, uma planta que precisa de água todos os dias e não um hobby de final de dia.
Depois, escolha a metodologia de trabalho – sou um fã de agile, pela dinâmica que cria e pelos resultados que alcança. Junte uma dose de design thinking e vai-se surpreender com as conclusões e com as oportunidades que vai identificar. Defina muito bem o seu MVP (minimum viable product) e não tenha medo de desenhar. Já ouvimos dizer muitas vezes, quando a mensagem não passa, que “é melhor fazer um desenho”, por isso, não tenha receio em Prototyping, invista em designers e visualize o resultado final antes de investir no desenvolvimento tecnológico. E não se esqueça, não assuma nada, pesquise, ouça os clientes, invista em research para validar esse MVP. Last but not the least, se o feedback é bom, não hesite então em programar, escolha a tecnologia ideal e faça acontecer. Leia os resultados e analise os dados face aos objetivos que definiu. Não se sinta pressionado para adquirir nada de novo, mas é fundamental perceber o que tem à sua disposição versus as necessidades reais de hoje, mas também de amanhã. Antecipar as necessidades é uma vantagem competitiva. Li uma vez num corredor dos escritórios do Facebook, algures em Varsóvia, algo como “done is better than perfect”, não sei quem o disse, mas tiro-lhe o chapéu. É exatamente isso. Não espere pela perfeição para implementar o seu produto. Ganha em time to market, ganha em investimento e ganha nas aprendizagens que vai ter para continuar a desenvolver o seu produto. Sim, porque isto da Transformação Digital não começa hoje e acaba amanhã. É, acima de tudo, uma jornada contínua de focus no cliente, na experiência e, sobretudo, de investimento nas pessoas da sua organização.
E não se preocupe, se não tiver todos os ingredientes para elaborar a sua Transformação Digital, siga o que o Martin Luther King Jr. disse um dia: ‘If you can’t fly then run, if you can’t run then walk, if you can’t walk then crawl, but whatever you do you have to keep moving”. É mesmo isso! Boas Transformações!