O tema em discussão versava sobre as formas de trazer a Internet a todo o mundo – ligar a outra metade do mundo que ainda está “às escuras” no que ao ciberespaço diz respeito. No entanto, a conversa acabou por derivar mais para temas como a inclusão e a diversidade nas tecnologias. No entanto, o mais interessante da conversa em palco com Tim Berners-Lee acabou por ser o desafio que o “pai” da Internet reconheceu no advento das tecnologias da Inteligência Artificial (IA). «Há muitas coisas interessantes que vão chegar ao mercado e que são baseadas em IA. Mas é preciso educar as pessoas sobre temas como o Machine Learning – que é apenas um componente da IA – para que se perceba o potencial deste conjunto de tecnologias. Mas como é que vai ser possível criar conhecimento se não existir partilha de informação? E como o podemos fazer mantendo a privacidade dos dados de cada um? O exemplo dos serviços que aconselham música, por exemplo. Se não soubermos que música é que cada um está a ouvir… como é que vamos sugerir-lhe as próximas faixas? Este é um grande desafio tecnológico que temos hoje: criar conhecimento para servir as pessoas, mas respeitando a privacidade dos seus dados». Tim Berners-Lee lidera um projeto criado dentro do MIT que tem por objetivo lidar com este desafio. Solid é uma plataforma que permite a criação de apps que respeitam a privacidade dos dados e que dá aos utilizadores o poder de decidir o que deseja partilhar e com quem.
A conversa no palco Forum focou-se, então, no tema da diversidade. «Colocar as raparigas na tecnologia tem sido um dos grandes desafios que enfrentamos como sociedade. O próprio MIT tentou perceber o que leva as mulheres a abandonarem estas áreas. Hoje, a noção geral é que temos de começar muito cedo. É logo no infantário onde em vez de darmos os brinquedos eletrónicos aos rapazes… temos de os dar também às raparigas», começou por explicar Tim Berners-Lee. O “pai” da Internet revelou-se muito preocupado com a forma como a Internet se tornou um espaço de ódio e de falsidade. «Se pudesse voltar e desligar a Web? Não, não o faria. Mas temos várias preocupações. As fake News. Quer dizer, até as pessoas são falsas – há muitos perfis falsos e não sabemos quais as intenções das pessoas que criam estes perfis falsos. O ódio online pode, e deve, ser combatido pelas pessoas se tiverem uma atitude mais positiva online ou deixarem de dar-se com as pessoas que têm esses discursos de ódio»
Os espectadores desta conversa tiveram o privilégio de ouvir um conselho de carreira do homem que criou a World Wide Web em 1989. «Tive muita sorte. Nasci em 1955 e os meus pais foram dos primeiros programadores de computadores. Um ambiente que estava a florescer e todos os computadores eram equivalentes, por isso, quando se programava era para todos os sistemas. O que era apaixonante. Mas foi também um desastre porque se desenvolveram muitas coisas que as máquinas ainda não conseguiam ainda fazer. Hoje, quando se olha para um computador tem de perceber-se que é algo que não se usa como o frigorífico: podemos fazer código e criar. E é isso que tem de ser ensinado às crianças. Agora, há tantos temas, tantas áreas de estudo, que faz sentido que as pessoas investam anos numa área de investigação. Depois, devem usar essa base e passar para outra área. É assim que se consegue reunir conhecimento e ajudar as comunidades. Não sintam que têm de fazer apenas uma coisa. É assim que se consegue a diversidade do conhecimento e das pessoas. E sejam criativos. Os que aqui estão e são programadores… usem código aberto. O que quer que estejam a construir experimentem também fazê-lo nesse tipo de código para que fique disponível a todos. Para que possam contribuir. Mesmo que estejam a fazer trabalho que pode nunca vir a ser aproveitado. É essa criatividade que pode contribuir para um mundo melhor».
Fernando Medina deu as boas-vindas ao palco do Forum e reforçou a mensagem otimista que já tinha sido o fio condutor do seu discurso na abertura da Web Summit. O edil da capital focou-se no tema da sustentabilidade. A criação de conhecimento entre os cidadãos, a capacidade de uma cidade ter políticas de energia sustentáveis e a importância de ter, igualmente, uma economia sustentável na base das cidades. «Por isso, em Lisboa estamos tão focados na mobilidade inteligente e na sustentabilidade social – onde não há descriminação», reforçou a terminar a sua curta mensagem.