A plataforma de banca aberta (open banking) Tink está a partir desta quinta-feira disponível em Portugal, para empresas ou programadores, e arranca com a integração dos dados de 20 instituições financeiras que cobrem 90% dos utilizadores bancários do país. A plataforma permite aceder através de um único interface de desenvolvimento de aplicações (API) às informações disponibilizadas de forma aberta, também através API, pelos bancos e instituições financeiras como forma de cumprimento da Diretiva dos Serviços de Pagamento (PSD2).
«Estamos comprometidos com o objetivo de sermos líderes europeus e esse tem sido o nosso objetivo ao longo de 2019, conseguimos financiamento para fazê-lo e estamos a entrar em novos mercados de forma recorrente. Acreditamos que temos de ter uma cobertura europeia e Portugal, como é óbvio, faz parte da Europa e dessa cobertura. Em segundo lugar, acreditamos que Portugal é um mercado bastante interessante, por causa de todo o dinamismo e do ecossistema crescente», disse Beatriz Gimenez, diretora-geral da Tink para Portugal e Espanha, a propósito do lançamento da plataforma, em entrevista à Exame Informática.
Além do API com informação agregada dos bancos e que permite criar novos serviços que têm informações como saldos, histórico de transações, fazer pagamentos e verificação dos fundos disponíveis, a plataforma da Tink tem ainda uma componente de dados que não são oriundos da partilha aberta de informação obrigatória pela diretiva PSD2 e a empresa também disponibiliza serviços de “marca branca”, para que qualquer empresa possa construir uma solução em cima dessa infraestrutura já preparada.
O primeiro grande projeto português que tira partido da plataforma Tink foi concretizado pela mão da Caixa Geral de Depósitos, através do projeto Dabox, um assistente pessoal que ajuda o utilizador na gestão da conta bancária e que recenteme também passou a integrar informações de outros bancos.
«Portugal está num nível muito semelhante ao dos principais mercados europeus [em banca aberta]. A chegada da PSD2 não tem sido fácil, especialmente para os bancos tradicionais, o timing também não foi fácil. Há uma curva de aprendizagem para cada empresa do ecossistema e da indústria para aprender a interagir e a tirar partido do PSD2», acrescentou a responsável sobre a dinâmica que a diretiva europeia veio trazer na partilha de informação por parte dos bancos.
«O progresso em Portugal no open banking tem sido enorme e estamos muito satisfeitos com o nível de performance que agora conseguimos providenciar aos bancos», acrescentou a responsável da empresa, fundada na Suécia em 2012.
A plataforma Tink já disponibiliza informações de 20 instituições financeiras que atuam em Portugal: ActivoBank, Atlântico Europa, Santander, Banco Montepio, Banco BPI, Bankinter, Novo Banco, Millennium BCP, Caixa Geral de Depósitos, Banco CTT, Banco de Investimento Global, Crédito Agrícola, Cofidis, Caixa CRL, Novo Banco Açores, Unicre, Revolut, Banco Português de Gestão, Caixa Económica Da Misericórdia De Angra Do Heroísmo e EuroBic.
A responsável avançou também, mas sem adiantar nomes, que a Tink está em «conversas muito avançadas» com grandes empresas do sector financeiro para a criação e lançamento de novos serviços no mercado português.
Quando questionada sobre os 10% de utilizadores bancários que a plataforma da Tink ainda não abrange, Beatriz Gimenez diz que é apenas uma questão de tempo e estratégia: esta fatia de utilizadores “pertence” a entidades financeiras de menor dimensão e se houver algum cliente da Tink que queira trabalhar especificamente com alguma destas entidades, vão ser feitos contactos nesse sentido.
Apesar de o mercado português estar sob a responsabilidade direta da gestora espanhola, que tem no currículo passagens pelo BBVA e outras instituições financeiras, o objetivo da empresa é contratar alguém que seja também o rosto da Tink em Portugal.
«Vai ter um papel completo no desenvolvimento do mercado em Portugal. Claro que trabalhamos num modelo global, portanto vai ter o apoio das pessoas de Estocolmo e da Ibéria, dependendo de caso para caso, mas vai ser o responsável pelo mercado.»
Concorrência com a SIBS
A disponibilização de uma API que dá acesso a outras API de bancos portugueses por parte da Tink acaba por ser uma alternativa ao API Market lançado no início do ano pela SIBS, a empresa responsável pela gestão da rede Multibanco – e que recentemente passou também disponibilizar aos programadores funcionalidades do Multibanco como «Pagamento de Serviços», «Pagamentos ao Estado» e «Carregamento de Telemóveis» através dessa plataforma.
É, então, a SIBS uma empresa concorrente? «A SIBS tem funcionalidades que nós também entregamos, mas não é exatamente igual», começou por dizer Beatriz Gimenez, para depois acrescentar que quem aceder à plataforma de open banking da Tink tem também acesso às informações das dezenas de instituições financeiras europeias que já fazem parte da rede da tecnológica.
«A nossa cobertura é mais abrangente, mas nós fazemos parte do ecossistema, a SIBS faz parte do ecossistema e acho que todas as partes – bancos tradicionais, fintechs, pequenas plataformas –, estamos todos a caminhar na mesma direção, uma em que a banca aberta permite cooperação uns com os outros, para o benefício dos consumidores finais», sublinhou Beatriz Gimenez.
A própria necessidade de os bancos tradicionais se reinventarem, por causa do fenómeno de empresas financeiras de base tecnológica como os bancos digitais Revolut, Monese e N26, acaba por abrir oportunidades para diferentes empresas e para o aparecimento de novos serviços.
«Os bancos para permanecerem relevantes, precisam de adaptar-se de forma rápida às mudanças que estão a acontecer na indústria, com o open banking a ser uma delas. (…) Acho que o open banking permite oferecer melhores serviços aos clientes finais, o que os faz manterem-se relevantes.»