Ross LaJeunesse, que ocupou o cargo de líder de relações internacionais da Google durante sete anos, acusa a gigante tecnológica de o ter afastado por ter defendido a criação de um programa de direitos humanos dentro da empresa. Numa publicação na plataforma Medium, o antigo executivo ataca a gigante americana e alega que foi afastado pelos ideais que defendia.
O executivo, agora com 50 anos, juntou-se à Google em 2008 e ocupou, desde 2012, o lugar de líder de relações internacionais – uma posição na qual o tópico China sempre foi muito sensível. De recordar que em 2010 a Google decidiu retirar-se do mercado chinês, devido aos cada vez mais frequentes pedidos do governo local para a censura de conteúdos no motor de busca.
Diz Ross LaJeunesse que foi com grande espanto que descobriu, em 2017, o plano da Google de voltar a lançar um motor de busca na China e que iria censurar conteúdos – naquela que era uma grande mudança de atitude relativamente à decisão que tinha sido tomada alguns anos antes.
Na publicação que faz, Ross LaJeunesse diz ter sido colocado de parte de qualquer discussão sobre o lançamento do projeto conhecido como Dragonfly, a tal versão censurada do Google para a China – e que entretanto foi cancelada. Foi então nesse ano, 2017, que o executivo tomou a decisão de começar a defender a adoção por parte da Google de um programa de direitos humanos e que iria comprometer publicamente a tecnológica a aderir aos princípios dos direitos humanos – algo que colocaria em causa o novo motor de busca para a China.
«Mas sempre que recomendava um programa dos direitos humanos, os principais executivos arranjavam uma desculpa para dizer que não», sublinha Ross LaJeunesse. «Como alguém que consistentemente defendeu uma abordagem baseada em direitos humanos, estava a ser colocado à parte nas conversações sobre o lançamento do Dragonfly», acrescentou ainda.
Numa reorganização interna que a Google operou em 2019, Ross LaJeunesse alega que a empresa lhe disse não ter lugar para ele – apesar de alegadamente existirem 90 posições em aberto ligadas à equipa de relações públicas. «Quando procurei aconselhamento, a Google garantiu-me que houve um mal entendido e ofereceu-me um pequeno cargo por troca do meu consentimento e silêncio», considera o executivo, que liga a defesa que fez em nome dos direitos humanos ao afastamento.
Ross LaJeunesse acabou por sair da tecnológica em maio de 2019, mas só agora é que tornou público o caso. A revelação do antigo executivo da Google é feita numa altura em que a empresa também é acusada por outros ex-funcionários de retaliação: em dezembro uma funcionária alegou ter sido despedida como forma de retaliação às atividades sindicais que promovia dentro da empresa e aumentou para cinco o número de pessoas que foram despedidas da Google e que acusam a empresa de “contra-atacar” quem lá dentro defende os direitos dos trabalhadores.
A gigante norte-americana já reagiu ao caso de Ross LaJeunesse e diz que tem um forte compromisso no apoio aos esforços e organizações de direitos humanos. «Como parte de uma reorganização, foi oferecido ao Ross uma nova posição dentro do mesmo nível e compensação, que ele declinou. Desejamos ao Ross tudo de bom nas suas ambições políticas», lê-se no comentário da empresa dado ao jornal The Washington Post.
A “tirada” no comentário da Google refere-se à intenção de Ross LaJeunesse candidatar-se ao cargo de senador no estado de Maine, nos EUA.